Fim de semana. Momento que para muitos se resumi em festas, alegrias, descanso. Para três garotas na minha faixa etária (entre 16 e 22 anos), esse seria apenas mais um fim de semana de festas, alegrias, descanso.
Elas foram a uma festa. Talvez tenham rido, comido, amado, beijado, bebido, vivido, assim como tantas outras jovens, assim como é costumeiro a nós jovens. Foi a última festa, o último momento de alegria, o último descanso, não! Foi só o começo do descanso. Por quê? Eu também nunca saberei.
Na volta para casa, a maldade humana aflorou em alguns e foi despejada nestas três personagens.
Motivos banais, vingança ridícula, mortes inesperadas acabaram ditando até mesmo o roteiro de vidas que nunca saberiam da existência dessas três vidas, agora três mortes.
Elas tinham a minha idade. Provavelmente, os mesmos sonhos, os mesmos medos, as mesmas esperanças.
Os sonhos moldam a sociedade, os sonhos transformam as nossas vidas. A luta incansável pela realização de um sonho não se compara a alegria da realização. Charles Chaplin dizia: “nunca se afaste de seus sonhos, pois se eles se forem, você continuara vivendo, mas terá deixado de existir."
As três eram jovens e, portanto, tinham sonhos. Podiam sonhar com a liberdade, com a autonomia. Sonhar com lindos casamentos românticos e perfeitos (
tá, eu sei que não existem), sonhar em ter uma família, filhos talvez, talvez um emprego. Elas sonhavam em serem felizes.
Felicidade. Essa palavra desapareceu tão rápido para essas meninas quanto as vidas delas. E os sonhos se foram, e elas deixaram a vida, ou melhor, a vida lhes foi tirada.
Quem não tem medo de nada é o Super-Homem e apenas ele
(no entanto eu ainda acho que ele teve medo que a boyzinha dele morresse, não vem ao caso), nós simples mortais sentimos medo, alguns os conhecem outros nem tanto. Conhecer nosso medos nos faz mais fortes, mais atentos, mais astutos.
Os medos, assim como os sonhos, são comuns a muitos. Muitos têm medo da solidão, muitos têm medo do fracasso, outros têm medo da morte. Esses todos, tentam nunca esbarrar com esses medos íntimos, porém eles sempre chegam.
Talvez a característica que mais me iguala a essas meninas que viraram mais alguns números nas estatísticas, foi a esperança. Eu tenho esperança. Elas tinham esperança. Não importa o tipo de esperança, ou sua finalidade. Temos todos esperança: eu, elas, quem lê agora. A diferença crucial, é que essas meninas não tirevam como usar essa tal esperança, pois ela lhes foi tirada assim como a vida. Brutalmente.
Imagine o momento em que foram abordadas, o medo. Imagine o horror de ver a morte, primeiro dos que você conhece, depois, a sua morte. Lentamente, como eu já disse, brutalmente. Desumanidade.
Elas tinham minha idade. Meus sonhos, meus medos, minha mesma esperança.
Pela idade, imagino que só conheceram o sexo por historias, TV ou amigos. E mesmo assim, tantas coisas lhes foram feitas sobre isso que como menina eu não consigo falar. Mas imagine que pior, não poderia ser feito. Se não bastasse a vida, lhes tiraram a pureza.
Elas foram torturas. Fisicamente, psicologicamente, sexualmente.
Quer ver uma banalidade? Morrer –
dentre outros motivos que eu não consegui “entender”- porque seu cabelo é bonito.
Mesmo assim, ainda assim, pode alguém pensar:
“E daí, você nem conhecia!” ou “ Muitos morrem assim ou pior.” Ou “Elas podem ter merecido.”... Eram vidas. Não preciso conhecer pra sentir a dor. È podem morrer, mas isso não se faz. Elas podiam sem minhas amigas. Elas podiam ser nada. E mesmo assim eu teria o mesmo ódio, a mesma tristeza , a mesma revolta que tenho agora.
Foi em Quipapá, entre 19 e 21 de agosto/2010. Desde então a única coisa que meu pai faz é tentar achar a justiça. Perelman pode até achar que justiça é dar a mesma coisa pra categorias diferentes. Outro fulano diz que justiça é dar algo que é de direito até que isso mexa com seu direito. Agora, justiça poderia ser igualdade ao invés de equidade, eu aceitaria. “Olho por olho, dente por dente” Ainda é pior porque esses assassinos ganharam a vida por um mulher e saíram de local idêntico ao que ...não consigo falar.
Cabe uma pergunta a mim, que eu também me faço: “
Por que danado eu tinha que abrir a janela errada do computador e ver por um segundo as imagens desse crime que poderia ser comigo e que me marcaram tanto?” Só Deus sabe. E é Nele que eu deixo minha esperança de um mundo melhor.
O mundo não deveria ser assim tão ruim. Somos todos iguais, mesmo nas diferenças.
E o fim de semana que começou com festas, alegrias e descanso transformou a vida de três jovens semelhantes a mim, a vida de suas famílias, de seus amigos e a minha vida. Elas perderam a vida.
E ainda tem gente que desperdiça a vida....
#Prometoparardedesperdiçaravida# Sim, eu chorei. Sim, perdi umas esperanças.
Mas em Deus tudo posso, inclusive mudar o mundo.